Capítulo 6 Família
6.1 Introdução
Eu quando menino, ainda não havia nascido meu irmão caçula, Aléfe Batista, adorava esperar meu pai chegar para assistirmos desenho juntos. Adorávamos o Pica-Pau, dentre outros. Porém, à demora pela sua chegada do trabalho, era um tempo sem fim. Ao ponto, de eu ter que esperá-lo na esquina da Rua Hipólito Cassiano com a Rua 4 de Setembro, em Pau dos Ferros/RN. Esta última tem uma ladeira cuja subida vai ao encontro da Escola Estadual Tarcício Maia. Era lá o trabalho do meu pai, de modo que quando eu avistava, corria o máximo que podia. Daí surge a poesia Pimpolho, que logo em seguida, se torna música, e quando a canto, sempre volto ao mesmo lugar, a inocência de um sonhador.
Temos também muitas outras emoções, como Colibri, dedicada ao meu irmão Álefe Batista, Uma Ala Na Luna dedicada a Allanna Lopes, e ao nosso aconchego familiar, A Casa do Meu Pai, que se refere ao meu avó Alcides Batista. Por fim, Manhã, Tarde e Noite é o retorno para a sua casa, após as viagens, ao encontro de nossa Matriarca, Chica Batista. Sintam um pouco de nós, e leve apenas o que for bom!
6.2 Poesias, prosas e textos
6.2.1 A Casa Do Meu Pai
Eu sempre vou Para casa do meu pai! Por lá ninguém jamais vai Ferir-me ou magoar Aqui por fora Quando a coisa está preta Eu pego minha maleta E vou pra casa do pai Eu sou filho único E apesar da dependência Minha mãe tem paciência Cura toda minha dor Minha casa tem poder e alegria Amor e sabedoria Tem calor, sossego e paz Eu sempre vou Para casa do meu pai! Quando a cabeça não sai De pensamentos ruins Esse tesouro que mora dentro da gente Buscá-lo fora é somente Embriagar-se de ilusão Eu sempre vou Para casa do meu pai! Quando a dúvida me atrai Ou me sinto tão sozinho Depois disso sinto um bem estar profundo E se eu não sou dono do mundo Mas o dono é meu pai Da minha casa Posso ir pra qualquer canto Não me assusto e não espanto Em tudo que posso olhar Se este lugar que fica dentro da gente Fosse mentira somente Precisava-se inventar Eu sempre vou Para casa do meu pai! O dia é sempre manhã Onde o pai também é mãe Onde a mãe também é pai Este hibridismo natural e tão ditoso Faz–me forte e poderoso Mexer comigo, quem vai? Todo dia eu vou Para casa do meu pai!
6.2.2 Pimpolho
É tarde Tocam os sinos na matriz São seis horas Eu preciso descançar Quando eu vejo Na ladeira meu pimpolho Chamando seu papai Para o jantar Pra que lamentar As ilusões que já passei Melhor será agradecer a Deus Ainda sou feliz Ave Maria! Cheia de graça Saúde pra Chica meu bem Não deixe faltar o pão de cada dia Protege meus filhos também
6.2.3 Uma Ala Na Luna
Eu dei e vi de você Minha melhor oração Chorei quando vi em você A semente no chão Ao leu foi dado aprender Que o amor tem poder Que o amor tem razão Uma ala na luna traz vida ao meu coração Amanhã será farta e feliz minha geração Parei pra pensar e a deus agradeci e entendi Que a felicidade nesta minha idade De outubro já vinha em minha direção A lei fez feliz minha fé Ache caro e ruim quem quizer Disso eu não abro mão Do seu lado quem vem vai lhe ver Redonda e num feliz amanhecer Seu rebento não surgirá em vão Uma ala na luna faz viva minha emoção Seus pequenos: minha prole \emph{ben} dita
6.2.4 Manhã, Tarde E Noite
De manhã quando o vento sopra Sinto a brisa leve Que vem do mar Sinto uma saudade louca E uma vontade lúcida De voltar De voltar pra casa Vai caminheiro na frente Diga a Chiquinha Que eu vou chegar Deixe a rede na varanda E pinga boa pra gente tomar Linda morena Teta de cuscuz O que me seduz E o teu negro olhar Chuva maneira que vem do nascente Seja complacente Deixe o chão molhar A tarde quando o sol descansa A garça retorna Pra se agasalhar No horizonte desponta Um fiasco de esperança Da volta... Da volta pra casa Oh Benjamim, maestro do bom Chame seu Benom Que a banda vai tocar... Dona Altina chame Bastião Acenda o fogão Pro feijão cozinhar A noite quando os sinos dobram Cobram minha presença No chão do meu lar Meu coração palpita Se alegra e se agita Pra voltar... Pra voltar pra casa Oh seu Matias venha bem ligeiro Prepare o terreiro A gente vai dançar
6.2.5 Para Dona FLÔ
Anos 80, nenhum motivo faria me esquecer dessa década, no comecinho de 80 eu vinha chegando de São Paulo, a cidade dos sonhos de muitos jovens que como eu ouvia o 14 Bis e a Banda Eva, foi mesmo por essa época que me encontrei pela primeira vez com dona Flô, minha FLÔ do Apodi/RN. Nessa época eu tinha um fusca laranja, quer dizer, era de seu Alcides meu pai, mas eu mentia para todas elas e tinha muitos sonhos e muitas estórias na ideia. Foi também nessa época maravilhosa que eu encontrei aquela galeguinha acanhada vinda do Sítio Bico-Torto às margens da Lagoa Apodi: minha FLÔ (Francisca Leite de Oliveira – Chica), ela tinha um pouco de nada e eu nem de nada tinha um pouco, mas eu tinha o mundo pela minha frente porque eu tinha LIBERDADE como criatura pensante. Naquela época existia o Bar da Aviação o qual ficava no comecinho do Conjunto Princesinha (Pau dos Ferros/RN), ali era também o começo do velho campo de pouso, naquele pátio grande vimos muitas vezes a madrugada chegar, só eu, Chica e o velho fusca. Foi o melhor tempo da minha vida, muitas canções foram escritas naqueles tempos, todo meu imaginário era pura criatividade, eu respirava música e dormia nos braços da poesia, mas tinha um detalhe interessante: eu procedia daquela forma simplesmente porque gostava de viver daquela maneira, meu corpo físico exibia o esplendor dos meus vinte e poucos anos e os hormônios vazavam por todos os poros. Foi nessa época em que encontrei minha FLÔ, Chica de Bento de Tito lá do SBT (Sítio Bico-Torto), como muita gente conhecia minha rotina sabia que minha vida era uma festa diuturna e enchiam a cabeça de Chica de bobagens, mas eu sempre falava para minha galega: que maior do que meu amor por ela só a coroa do Criador e a vontade de andar naquele fusca velho, então eu via nos olhos inocentes da minha FLÔ que ela confiava no meu destino. E assim junto a minha odisseia franciscana eu comecei e terminei minha primeira graduação. Nesse interim eu já tinha casado com Chica nos três cartórios e já tínhamos perdidos três crianças, dois desses meninos voltaram depois com muito vigor e graça do Grande Espírito: Ben e Álefe. Esse ano de 2015, fez 31 anos que nós caminhamos juntos por essa estrada divertida a qual tem um significado muito maior do que um matrimônio igrejista e civilista, eu sou minha esposa, minha esposa é meu outro lado, nós somos um clã unido como uma alcateia de lobos, nos amamos mutuamente sem precisar usar o verbo porque o coração sempre se antecipa na trivialidade das nossas ações. Hoje minha FLÔ completa mais um ciclo de vida, posso perceber a covardia do tempo ao dobrar-lhe a tez e o começo de um colorido degradê invadir seus cabelos, ainda assim sinto a fragrância e o frescor do seu carinho como a 30 anos atrás, seus cuidados pelos seus três homens continuam impecável como antes. O afã da sua labuta continua religiosamente como antes, de vez em quando ouço dos vizinhos da comunidade o quanto dona FLÔ é grande e poderosa, mas com toda essa consciência e certeza no meu convívio domiciliar ainda não tive a coragem e o atrevimento suficiente para dizer a essa senhora o que sinto, porque não confio na articulação das palavras, minha companheira é muito mais do que a mãe dos meus filhos, só quem caminhou 30 anos ao seu lado sabe o tamanho da preciosidade que o meu destino reservou, eu não sei o tamanho desse preço e sou covarde o suficiente para dizer que não tenho capacidade de arcar com essa vultosa quantia, mas tenho dito entremeando minhas canções, aqui e ali, minha mais profunda gratidão em forma de otimismo e alegria nesse caminhar infindo de idas e vindas. Minha querida Chica, minhas sinceras congratulações na passagem desse seu dia, no seu presente está contido minha vontade de sempre acertar mais ainda nessa nossa caminhada que nos levará para o nosso verdadeiro lar. Que o Grande Espírito a abençoe abundantemente e perpetue a nossa semente!
Texto escrito em 06/11/2015 (Aniversário de Chica Batista), nas redes sociais de Ciriégola