Capítulo 3 Fauna, flora e misticismo
3.1 Introdução
Um dos principais assuntos quando paramos para conversar, eu e Ciriégola, é sobre o tema desse Capítulo, Fauna, Flora e Misticismo. Na década de 70, quando ele escreve Sertão de Metal6, não inserida no livro, falando dos problemas sobre a fauna, flora, e nosso convívio social, que o avanço tecnológico traria para um futuro próximo, momento esse em que ainda estavam surgindo os computadores de terceira geração. E hoje como uma premonição de Nostradamus, é uma realidade. Outras obras-primas, escritas nesses últimos anos, e disponíveis na próxima seção, são Pachamama e Margaridas na Favela, texto poéticos para reflexões profundas sobre o trato do homem para com a natureza. Grande orações, ao Deus Interior se transbordam em Afirmações de Um Peregrino e em GRASPILUXIMUTECODEFAVON. Apreciem com carinho a próxima seção, sendo apresentado estas poesias e muito mais.
3.2 Poesias, prosas e textos
3.2.1 Pachamama - Mãe Terra
Pachamama, ó Mãe Terra, o que fizeram de ti Até sinto cheiro de morte no teu suor Pachamama, o homem pisou pesado No solo, pra nós sagrado Morada dos ancestrais Teus rios apodrecidos Animais são abatidos Em nome do capital O machado bronco No tronco golpeia o vegetal Com somenos precisão As baleias nas marés se precipitam E no veneno que vomitam Tem bateria celular Até que morra o último batráquio Até que tombe o último vegetal Até que sacrifiquem o último oceano Só assim O homem saberá que dinheiro não se come Pachamama, o homem branco é malvado Pensa que tudo é comprado Mas Mãe Terra, tem preço não Pachamama, nos deste o berço e o sossego A fruta que come, e o arrego Quando a carne não presta mais O grande Pai tá zangado El niño manda o recado Destrói tudo por onde vai No horizonte uma Águia vagueia ao por do sol Faz a tua predição: Ó homem néscio, envolto em tecnologia A mais dias ou a menos dias Vai morrer só na multidão Até que morra o último batráquio Até que tombe o último vegetal Até que sacrifiquem o último oceano Só assim O homem saberá que dinheiro não se come
3.2.2 Passarinho De Estrada
Quando Deus um dia Conceder minhas asas Para voar Subo o oceano No mais largo voo Solto o meu cantar Na razão primeira De todas as coisas Também sei amar Faço parte das cores Da fauna e das flores Do repente e do ar Sou bicho alado Passarinho de Estrada Faço alvorada Amo a liberdade Gaiola pra mim não serviu Não compreendo gente grande Sou filho da boca do mundo Quero num segundo Ser mais feliz Sou bicho alado Passarinho de estrada Faço alvorada Amo a liberdade
3.2.3 Margaridas Na Favela
Você já reparou O mundo ao seu redor Tá cada vez pior Respirar no pântano Você já questionou A escacês maior Tá cada vez menor A água do cântaro Notícias do Pará Acabam de chegar Tão matando a mata É de se acreditar Que essa esculhambação A constituição não basta A questão da consciência É o que faz a diferença Só assim renascerá de novo As margaridas na favela Você já percebeu Que o tempo esgotou Pra você que só tirou Mas não repôs, hipócrita Você não entendeu E assim não reciclou Sua atitude só ficou Num amanhã insólito O povo d'além mar Já pensam em comprar Um patrimônio nosso A minha mão na tua mão Pode formar multidão Sozinho eu não posso A questão da consciência É o que faz a diferença Só assim renascerá de novo As margaridas na favela Notícias do Pará Acabam de chegar Tão matando a mata...
3.2.4 Xique-Xique, Lamparina, Lagartixa E Carcará
Se você quer saber de onde eu venho Provenho das espécies raras do cerrado Da lama seca empedernida do sertão Do coração da terra do oeste do estado Sou uma mistura de toucinho e feijão amassado Com rapadura preta e essência de fubá O meu cerne é carne seca sem fritura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xique-xique, lamparina, lagartixa e carcará Adivinhe qual é a minha procedência? A ascendência direta vem dos mandacarus Do angico, da aroeira, da cuité e da macambira Da lira discreta dos uirapurus Das jacas, cajus, dos jucás, cajás, dos jacus Das delícias pastosas de um vatapá Meu sangue é cinzento, sem cor e sem pintura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xiquexique, lamparina, lagartixa e carcará Minha vinda pra cá, quer mesmo saber? Pra nascer quase lasco de mãe a porteira Lavaram-me com bucha e caco de telha A centelha de vida que me deu a parteira Foi leite de jumenta comprado na feira Bebi muita água com casca de jucá Para me livrar do mal e da sepultura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xiquexique, lamparina, lagartixa e carcará Minha cor negra parda, cinza avermelhada Marcada ainda pelo banzo em estigma Digna e fica como um poema nativo Cujo crivo Panati tem o som e paradigma Cabalístico da misteriosa letra sigma Misture tudo isso na água de aluá Adoçado com a raspa da rapadura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xiquexique, lamparina, lagartixa e carcará Sou filho dum caboclo, velho caçador Construtor de açudes na seca nordestina Fascina a mim até hoje a sua sabedoria Sua energia taurina até hoje me fascina Conhecia a pesca, a caça, asa aves de rapina Nas armadilhas pegava paca, mocó e preá Corró, teiú, codorniz, cangati, traíra, e mucura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xiquexique, lamparina, lagartixa e carcará Minha Mãe, a matriarca, luz do meu clã De manhã, já ajeitava o fogo na panela Um corredor de boi com o feijão macassá Fubá e uma catemba de coco que rela O alho roxo como tempero e despela Ao pilão milho zarolho para o mungunzá A mesa era um a esteira feita com ternura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xiquexique , lamparina lagartixa e carcará Quando a seca desolou esse lado do nordeste Comia-se palmatória e farinha de macambira Numa pilha de maravalha assava batata doce Como se fosse guloseima e amarrava numa embira O resto das raízes, pois se não repor donde se tira Escassea a provisão, fica seco o caçuá No roçado sem comida a vida fica uma loucura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xiquexique, lamparina , lagartixa e carcará Já dormi muitas vezes no incômodo dum jirau O isqueiro era o improviso de um velho corrimboque O toque da fumaça do esterco espantava muriçoca Quando não tinha espingarda usava mesmo o bodoque Já comi muitas frutas venenosas sem sentir nada de choque Já fiz cabresto de jumento com couro de tamanduá A necessidade e a precisão aqui tinham de fartura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xiquexique, lamparina, lagartixa e carcará O meu creme dental era a rapa nova de juá O meu brinquedo era osso e latinha de sardinha Minha mochila escolar era um saco plástico de bolacha E a merenda na escola era rapadura com farinha Eu sei que esse conforto moderno a gente inda não tinha Mas tinha a folia de reis, as cirandas, festa do boi e vatapá Naquilo a alegria e o delírio corria em toda largura Dessa forma eu sou mesmo essa interessante mistura De xiquexique, lamparina, lagartixa e carcará
3.2.5 Karma
Karma é um termo oriental De uma escritura sagrada É uma completa estrada Do começo ao terminal É como um senhor feudal Que avaliza seus direitos Rege as causas e os efeitos Rege a vida e rege a morte Dirige o azar e a sorte Dá direitos a quem têm direitos Fui ontem um jovem ditoso Era o bom da serenata Da sociedade fui a nata E das meninas o mimoso Fui um corcel fogoso Jogando terra pra trás Hoje perdi todo cartaz Contribuí e fiz a prole Perdi o gás do meu fole Tudo é karma e nada mais Meu bom Brasil, preto de angola Bom paciente aprendiz Tem cuidado no nariz Pra não perder a argola Cada vez mais se atola Nas multinacionais Governantes imorais Só pensam em ganhar dinheiro Vamos logo pro estrangeiro Tudo é karma e nada mais Vejo uns chorando em prantos Porque lhe roubaram a vida De alguma pessoa querida Que lhes davam bons encantos O povo não sabe quantos Foram nossos ancestrais Pais dos pais de nossos pais Já se foram e já voltaram As tolices não mudaram Tudo é karma e nada mais Se hoje estou contente No amanhã vou pensar Tenho mais é que aproveitar Ser um guerreiro decente Fazer pela minha gente Agricultores rurais Mostrando as credenciais De um nordestino seguro Pois o futuro é futuro Tudo é karma e nada mais Está cantando um passarinho No alto de uma palmeira Vem uma pedra certeira Estraçalhando o seu ninho Os ovos cai no caminho Por tentações infernais Somos todos desiguais Fiquei de fora observando E vi de novo o passarinho cantando Tudo é karma e nada mais A minha voz é um grande brado Tenho mãos que fazem tudo Outro nasce surdo e mudo Manco, coxo ou aleijado Delfim só trabalhava sentado Outros fazem papéis marginais Outros nos trabalhos braçais Totalmente fora de moda O mundo é mesmo uma bola Tudo é karma e nada mais Não nasci pra ter dinheiro Sou feliz mesmo sendo assim E quem tiver inveja de mim Vá brigar com Deus primeiro Não sou o último nem derradeiro Dos Batista(s) imortais Não tenho tristezas, jamais Amo tudo que já fiz E se nasci pra ser feliz Tudo é karma e nada mais
3.2.6 Nosso Mantra: GRASPILUXIMUTECODEFAVON
Acima do Grande Espírito Só existe a infinitude Do Seu inefável e incondicional amor Nada pode me destruir ou derrotar pois eu sou parte dessa Onipresente E poderosa Energia
3.2.7 Afirmações De Um Peregrino
Eu sou a fé Sou o poder Eu sou a beleza Saúde eu sou Eu sou o amor Eu sou fortaleza Minha morada é uma roda sagrada Morada do Criador Dormindo ou acordado É forte o meu Protetor Eu sou natureza, A fartura em minha mesa Eu sou alegria E a certeza de um outro dia feliz Minha estrada é via abençoada Tem riqueza e esplendor Meu pensamento é um tiro certeiro Sou forte que nem um condor Sou Falcão Ligeiro Um Xamã aventureiro Guerreiro e energia Pachamama é minha guia e nutriz
3.2.8 Deus Em Mim
Ó Divina, clara e infinitamente pura Aurora Essência viva de todos os evangelhos da terra Minha busca de Ti definitivamente hoje encerra As dúvidas e especulações que guardo d’outrora Procurei Tua presença no evangelho e na cultura Vaguei por todos os credos do imaginário humano Maldito e ruim seja todo fundamentalismo insano Que aborta Deus do interior de toda a criatura Deus é uma circunferência infinda e onipresente Em todo canto , pois é tudo e por vez onisciente Está em cima, em baixo ou em qualquer lugar Se Ele está em mim e eu estou Nele em toda ocasião Assim eu me recuso do cajado de qualquer religião Que possa separar Ele de mim ou de mim Ele separar