10 Teoria da Decisão
10.1 Introdução
No Capítulo 9, o objetivo era encontrar uma estimativa para um parâmetro populacional desconhecido, sendo que tal estimativa permitia fazer uma afirmação sobre o parâmetro, considerando um determinado nível de confiança. Porém, com frequência, temos ideia ou somos informados sobre um possível valor do parâmetro, e para darmos continuidade ao nosso estudo, somos obrigados a aceitar ou rejeitar tal valor. Com base em informações obtidas numa amostra aleatória, é estatisticamente possível, tomar uma decisão quanto à aceitação ou rejeição da afirmação feita sobre um parâmetro populacional desconhecido.
10.2 Teste de Hipóteses
Um teste de hipóteses é uma regra de decisão que, permite aceitar ou rejeitar uma hipótese formulada sobre um determinado parâmetro populacional, baseando-se em informações contidas numa amostra aleatória.
10.2.1 Hipóteses Estatísticas
Uma afirmação feita sobre um parâmetro populacional em estudo é chamada de hipótese estatística. A hipótese estatística divide-se em duas partes complementares.
- Hipótese de Nulidade: É a hipótese que será testada, ou seja, admite ausência de diferenças entre os parâmetros testados, e em notação usa-se \(H_0\).
Exemplo 10.1 Considere um teste sobre a média populacional \(\mu\), do qual se pode formular as seguintes hipóteses de nulidade:
- \(H_{0}: \mu=\mu_0\), ou
- \(H_{0}: \mu \geq \mu_0\), ou
- \(H_{0}: \mu \leq \mu_0\).
- Hipótese Alternativa: É a hipótese que afirma o contrário de \(H_0\). É qualquer hipótese diferente de \(H_0\), isto é, aquela que será aceita caso o teste indique que \(H_0\) deva ser rejeitada, e em notação denota-se por \(H_a\).
Exemplo 10.2 De acordo com o Exemplo 10.1, pode-se formular as respectivas hipóteses alternativas:
- \(H_{a}: \mu \neq \mu_0\), ou
- \(H_{a}: \mu < \mu_0\), ou
- \(H_{a}: \mu > \mu_0\).
Vale ressaltar algumas observações:
- Estabelecer \(H_0\) e \(H_a\) depende exclusivamente da natureza do problema em estudo;
- Por convenção os símbolos: =, \(\geq\) e \(\leq\) estão associados com \(H_0\), e os símbolos: \(\neq\), < e > com \(H_a\).
- A rejeição de \(H_0\) implicará na aceitação de \(H_a\), e vice-versa, isto é, \(H_0\) e \(H_a\) são complementares.
10.3 Erros Cometidos ao se Realizar um Teste de Hipóteses
Como a tomada de decisões sobre a aceitação ou rejeição de uma hipótese, está baseada apenas em informações contidas em dados amostrais, dois tipos de erros podem ser cometidos, a saber:
- Erro Tipo I: É o erro que se comete ao rejeitar \(H_0\) quando ela é verdadeira. A probabilidade de se cometer esse erro é representada por \(\alpha\), e define o nível de significância do teste.
- Erro Tipo II: É o erro que se comete ao aceitar \(H_0\) quando ela é falsa. A probabilidade de se cometer esse erro é representada por \(\beta\). Ao passo que, \(1-\beta\) representa a probabilidade de rejeitar uma hipótese incorreta, denominada de poder do teste.
A Tabela 10.1 resume a natureza dos erros envolvidos no processo de decisão através dos testes de hipóteses.
DECISÃO \ REALIDADE | \(H_0\) verdadeira | \(H_0\) falsa |
---|---|---|
Aceitar \(H_0\) | Decisão correta \((1-\alpha)\) | Erro Tipo II \((\beta)\) |
Rejeitar \(H_0\) | Erro Tipo I \((\alpha)\) | Decisão Correta \((1-\beta)\) |
Para que um teste de hipóteses seja considerado bom, deve-se ter uma pequena probabilidade de rejeitar \(H_0\) se esta for verdadeira, mas também uma grande probabilidade de rejeitá-la se ela for falsa.
Vale ressaltar que os erros tipo I e II são inversamente correlacionados, isto é, o aumento da probabilidade de ocorrência de um reduz a probabilidade de ocorrência do outro. Desse modo, a única forma de diminuir as probabilidades \(\alpha\) e \(\beta\) simultaneamente, é aumentando o tamanho da amostra.
Neste capítulo serão realizados testes de hipóteses em que apenas o Erro Tipo I é controlado, chamados Testes de Significância, em que o nível de significância \(\alpha\) é fixado.
10.4 Significância de um Teste de Hipóteses
Um teste de hipóteses é significativo a um nível \(\alpha\) de probabilidade, se a hipótese \(H_0\) for rejeitada a esse nível, caso contrário o teste é não significativo a esse nível. Significativo a um nível \(\alpha\) indica que, é inferior a \(\alpha\) a probabilidade das diferenças detectadas terem sido casuais.
A escolha de \(\alpha\) é arbitrária, dependendo dos objetivos do trabalho. Em geral, usa-se fixar \(\alpha\) em 5,0% ou 1,0%. Em função do valor de \(\alpha\), as tabelas das distribuições teóricas de probabilidades fornecem os valores críticos para os testes.
10.5 Teste Unilateral e Bilateral
De acordo com o objetivo do teste, pode-se usar os dois extremos da distribuição teórica de probabilidade para a região crítica, chamado de Teste Bilateral , ou então apenas um dos extremos da distribuição, chamado de Teste Unilateral.
- Teste Bilateral: A região de rejeição da hipótese \(H_0\) \((RRH_0)\), fica estabelecida nos dois extremos da curva correspondente à distribuição teórica de probabilidades utilizada.
Exemplo 10.3 Seja um teste para a média \(\mu\) de uma distribuição normal. Pode-se então formular as seguintes hipóteses:
\[\begin{align*} \begin{cases} H_{0}:\mu=\mu_0;\\ H_{a}: \mu \neq \mu_0. \end{cases} \end{align*}\]
Neste caso, a hipótese \(H_{a}\) especifica que \(\mu\) pode ser tanto maior quanto menor que \(\mu_0\). A representação gráfica deste teste está apresentada na Figura 10.1.

- Teste Unilateral à direita: A região de rejeição da hipótese \(H_{0}\), fica estabelecida no lado direito da curva correspondente à distribuição teórica de probabilidades utilizada.
Exemplo 10.4 Considerando o exemplo anterior pode-se formular a seguintes hipóteses:
\[\begin{align*} \begin{cases} H_{0}:\mu=\mu_0 ~ou~ \mu \leq \mu_0;\\ H_{a}: \mu > \mu_0. \end{cases} \end{align*}\]
Cuja representação gráfica está apresentada na Figura 10.2.

- Teste Unilateral à esquerda: A região de rejeição da hipótese \(H_{0}\), fica estabelecida no lado esquerdo da curva correspondente à distribuição teórica de probabilidades utilizada.
Exemplo 10.5 Para o exemplo anterior pode-se formular a seguintes hipóteses:
\[\begin{align*} \begin{cases} H_{0}:\mu=\mu_0 ~ou~ \mu \geq \mu_0;\\ H_{a}: \mu < \mu_0. \end{cases} \end{align*}\]
Cuja representação gráfica está apresentada na Figura Figura 10.3.

10.6 Passos para Execução de um Teste de Hipóteses
Um teste de hipóteses sempre se refere a uma hipótese de nulidade. Para se decidir se as diferenças entre os parâmetros da população são ou não estatisticamente significativos, deve-se submeter os dados amostrais a um teste de hipóteses. Para realização de um teste de hipóteses os seguintes passos devem ser seguidos:
- Formular as hipóteses \(H_{0}\) e \(H_{a}\), segundo a natureza do problema em estudo;
- Especificar o nível de significância do teste, ou seja, o valor de \(\alpha\);
- Escolher o teste apropriado, estabelecendo a região crítica \((RRH_0)\) na distribuição teórica de probabilidades;
- Calcular o valor do teste através dos dados amostrais;
- Decisão (Conclusão). Comparar o valor calculado do teste com o valor crítico (tabelado). Se o valor calculado do teste pertencer a região de aceitação de \(H_{0}\) \((RAH_{0})\), aceita-se \(H_{0}\), caso contrário, rejeita-se \(H_{0}\), com nível de significância \(\alpha\).
Nas próximas seções, serão utilizados as distribuições de probabilidades e resultados, vistos no Capítulo 8, para a construção de testes de hipóteses para parâmetros populacionais de interesse.
10.7 Teste para a Média de uma Distribuição Normal
Para o teste da média de uma distribuição normal, tem-se as seguintes situações, dadas a seguir.
10.7.1 Grandes Amostras ou Variância Populacional Conhecida
Quando se tem grandes amostras \((n \geq 30)\), ou se conhece a variância populacional \(\sigma^2\), o procedimento do teste é dado da seguinte forma:
- Formular as hipóteses: \(H_0\) e \(H_a\).
Teste Bilateral: \[\begin{align*} \begin{cases} H_{0}: \mu=\mu_0;\\ H_{a}: \mu \neq \mu_0. \end{cases} \end{align*}\]
Especificar do nível de significância do teste, ou seja, o valor de \(\alpha\);
Escolha do teste apropriado, estabelecendo a região crítica (\(RRH_0\)) na distribuição teórica de probabilidades. Neste caso, o teste apropriado é o Teste Z, cuja estatística do teste é dada por (10.1). \[ \begin{align} Z & = \frac{\bar{x}-\mu}{\frac{\sigma}{\sqrt{n}}}, \end{align} \tag{10.1}\] em que \(Z \sim N(0,0; 1,0)\);
Cálculo da estatística do teste através dos dados amostrais, denotado por \(Z_c\), dado por (10.2). \[ \begin{align} Z_c & = \frac{\bar{x}-\mu_0}{\frac{\sigma}{\sqrt{n}}}, \end{align} \tag{10.2}\] em que \(\mu_0\) é o valor de \(\mu\) sob \(H_0\).
Em seguida, compara-se o valor de \(Z_c\) com o valor crítico (\(Z_{tab}\)), consultando a Tabela de Z (Tabela A 1 ou Tabela A 2).
- Decisão:
- Se \(|Z_c| > |Z_{tab} = Z_{\alpha}\) (unilateral) ou \(Z_{\alpha/2}\) (bilateral)\(|\), então rejeita-se \(H_0\). De outra forma, se \(Z_c \in RRH_0\), então rejeita-se \(H_0\);
- Se \(|Z_c| \leq |Z_{tab} = Z_{\alpha}\) (unilateral) ou \(Z_{\alpha/2}\) (bilateral)\(|\) , então aceita-se \(H_0\). De outra forma, se \(Z_c \in RAH_0\), então aceita-se \(H_0\).
Exemplo 10.6 Técnicos do INMETRO desejam avaliar um processo para conservar alimentos enlatados, cuja principal variável de interesse é o tempo de duração dos mesmos, que obedece a uma distribuição normal com variância igual a 100 dias\(^2\). A indústria que utiliza o processo afirma que o tempo médio de duração é de 70 dias. Os técnicos retiraram uma amostra de 25 latas e a média encontrada foi de 60 dias. Ao nível de 1,0%, pode-se aceitar ou não a afirmação da indústria.
Neste caso embora o tamanho da amostra é menor do que 30, a variância populacional é conhecida, sendo igual a 100 dias\(^2\), e assim seguindo os passos descritos anteriormente, tem-se:
- Formular as hipóteses: \(H_{0}\) e \(H_{a}\).
- Especificar o nível de significância \(\alpha\):
\(\alpha=0,01~\textrm{ou}~1,0\%\). - Escolha do teste apropriado, estabelecendo a região crítica (\(RRH_0\)) na distribuição teórica de probabilidades.
Neste caso, o teste apropriado é o Teste Z dado por (10.1).
Consultando a Tabela A 2, tem-se que o valor de Z que deixa uma probabilidade acima dele de \(0,01\) é igual a \(2,33\). Consulta-se dentro do corpo da tabela o valor referente a \(0,01\) ou mais próximo, neste caso o \(0,0099\), conforme esquema abaixo:
pelo fato da distribuição ser simétrica.
Na Figura 10.4 tem-se as regiões de aceitação e rejeição de \(H_{0}\) na distribuição de Z.

- Cálculo do valor do teste através dos dados amostrais utilizando a expressão (10.2).
\(Z_{c}=\frac{60-70}{\frac{10}{\sqrt{25}}}=-5,0\). - Decisão (Conclusão):
\(Z_c=-5,0 \in RRH_{0} \Rightarrow\) Rejeita-se \(H_{0}:\mu=70\). Logo, aceita-se \(H_{a}: \mu < 70\). Portanto, o tempo médio de duração dos enlatados é menor que 70 dias. Diz-se então que o teste foi significativo ao nível de 1,0% de probabilidade.
10.7.2 Pequenas Amostras e Variância Populacional Desconhecida
No caso de pequenas amostras (n < 30), e quando se desconhece a variância populacional \(\sigma^2\), o procedimento do teste é dado da seguinte forma:
- Formular as hipóteses: \(H_0\) e \(H_a\).
Teste Bilateral: \[\begin{align*} \begin{cases} H_{0}: \mu=\mu_0;\\ H_{a}: \mu \neq \mu_0. \end{cases} \end{align*}\]
- Especificar do nível de significância do teste, ou seja o valor de \(\alpha\);
- Escolha do teste apropriado, estabelecendo a região crítica (\(RRH_0\)) na distribuição teórica de probabilidades. Neste caso, o teste apropriado é o Teste t, cuja estatística do teste é dada por (10.3). \[ \begin{align} t=\frac{\bar{x}-\mu}{\frac{s}{\sqrt{n}}}, \end{align} \tag{10.3}\] em que \(t \sim t_\nu\), isto é, \(t\) tem distribuição t-Student com \(\nu = n - 1\) graus de liberdade.
- Cálculo do valor da estatística do teste através dos dados amostrais, denotado por \(t_c\), dado por \(\eqref{eq:testet02}\). $$ \[\begin{align} t_{c}=\frac{\bar{x}-\mu_0}{\frac{s}{\sqrt{n}}}, \end{align}\] em que \(\mu_0\) é o valor de \(\mu\) sob \(H_0\).
Em seguida, compara-se o valor de \(t_c\) com o valor crítico (\(t_{tab}\)), consultando a Tabela de t (Tabela \(\ref{tab:tdist}\)).
Decisão: